segunda-feira, 28 de julho de 2014

O primeiro, é sempre o primeiro!

Estava nervosa, confesso. Morria de vergonha de encarar aqueles que embora sigam o blog, não faziam ideia de quem estava por trás de cada texto. Fui-me abstraindo de que era a primeira vez que os estava a ver, e a cada troca de palavras. A cada frase. A cada sorriso que via esboçado no rosto de cada um, percebia que tinha sido o impulso mais acertado dos últimos tempos. O Sunset estava a ser um sucesso!

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O Sol também compareceu à chamada e estava montado o cenário para aqueles que tiveram  vontade - disponibilidade - e a coragem necessária para ir ao encontro dos desconhecidos. Desconhecidos nos primeiros escassos minutos, e que passaram a futuros amigos - arrisco dizer. Só quem lá esteve para sentir a empatia, a cumplicidade e afinidade que se gerou.

Haviam seguidores desde os arredores de Lisboa a Beja. Das mais variadas profissões. Em comum: a faixa etária, uma bagagem de histórias, vivências e o blog.

O espaço fora assaltado pela boa disposição de quase uma centena de seguidores do blog – eu cumpro! - excelentemente acompanhados pelas várias sangrias, gins e outros que tais, onde se apresentaram - tipo alcoólicos anónimos - trocaram ideias, experiências e testemunharam um pôr-do-sol impar ao som de um dos Dj´s mais famoso, que a pedido, nos fez viajar no tempo. Musicas que todos cantarolavam e num tom bem desafinado se divertiam.  

E o Sunset continuava um sucesso. Era só o que pensava sempre que olhava em volta e via, todos em constante sintonia, em pura harmonia.

As conversas fluíam, de entre os enigmas e mais histórias com os resistentes à hora de jantar. A animação estava garantida e é para repetir.

A todos os que estiveram presentes o meu mais sincero agradecimento. Encheram-me a alma, numa tarde que acabou numa noite quase dia.

"There are no strangers here, only friends you haven´t yet met"

sábado, 19 de julho de 2014

Problemas de um coração.

Esta semana passei mais de metade das horas dos dias no hospital - naquele que foi noticia por razões menos positivas.

Durante essas horas, intermináveis para quem espera, bebi até à última gota as historias. A historia de cada um dos que na hora de medo, contavam o que de mais marcante viveram. E todas elas- todas! - acabavam com uma historia de amor.  Do mais calmo ao mais irreverente. Dos que ainda tinham as suas mais que tudo ao lado aos que as recordavam. Todos falavam da importância de um pilar e de uma família. 

Os olhos brilhavam quando o tema era o lado sem dor do coração que agora fraquejava.

Em comum todos tinham: um coração muito debilitado e as famílias com o coração na mãos.

E de todas as que conheci. Houve uma especial.

O “Bom Vivan” como ele mesmo se apelidou. Tem 68 anos, nascido e criado num dos bairros mais problemáticos de Lisboa. Teve a escola intensiva da vida. Dizia que a tinha vivido da melhor forma que pode. Fez tudo o que lhe apeteceu. Mas que feliz, feliz só tinha sido nos 8 anos que fora casado com a mulher que enfrentou tudo e todos por ele. Sem olhar às origens nem aos “rotolos”. Uma mulher que sendo de uma classe social bem diferente, se limitou a ouvir os batimentos acelerados do seu amor - adoro! Uma doença prolongada roubou-a prematuramente. Não teve filhos. Mas que se agarrava a esse amor para recuperar do AVC - depois de ter superado a grande prova da operação - que lhe roubou a fala durante semanas. O orgulho e saudade estampados no rosto, na voz e nas lágrimas que discretamente limpava. Nunca mais o vi, espero que esteja bem. A viver a vida.

E o meu avô. Não tão fácil de apresentar, porque é o meu. Os seus 80 anos de historias batiam a léguas os Lusíadas em aventuras, um dia faço uma compilação tipo a Anita. Já estou a imaginar os títulos “o meu Avô na …”.

Casado há 58 anos, com filhos, netos e bisnetos. Com uma vida repleta de altos e baixos, mas com uma força de viver invejável. O problema dele não era que alguma coisa corresse mal na cirurgia. O grande drama, era se a minha avó se voltava a apaixonar. Ou seja, uma cena de ciúmes antes desta grande prova, a do coração - no verdadeiro sentido da palavra.

 Espero que cirurgia cárdio-torácica que o encorajamos a fazer para que recuperasse a qualidade de vida perdida nos últimos tempos, seja mais uma a contar no próximo jantar de família, combinado para quando regressar a casa. O sorriso com que acordou, fez-nos respirar de alivio. Os dois avc´s que se seguiram quando já se fazia a contagem decrescente para ter alta, apertaram-nos o coração. A esperança de que tudo vai correr bem - e que o meu Avô não se vai ter de preocupar com a concorrência - encoraja-nos a cada visita. O meu contador de histórias está agora com uma nova dicotomia. Tão difícil de entender quanto de aceitar. Tudo tinha corrido tão bem. A sua energia fora também roubada pelos escassos segundos como se de um sismo se tratasse - ainda que de escala reduzida - roubou-lhe a fala e o movimentos do membro superior direito. Podia ter sido pior, podia. Mas também podia não ter acontecido e tudo ter sido um sucesso. É a vida.

Não há idade para amar. E um amor, é sempre um amor.


Amo-o o tanto, que até prometi esquecer o que ele me disse no Natal.

 “Vou pedir ao tempo, que me dê mais tempo,” tenho de olhar para si.