quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Dizer não ao coração, é tramado.


Lembro-me perfeitamente da hora e do dia em que ele me mandou uma mensagem a terminar a relação que tínhamos - pela segunda vez. Sim, foi cobardemente o meio que encontrou. E nem foi daquelas pagas, foi mesmo do programa mais usado para o efeito. Posto isto, respondi da mesma forma e ainda acabei com o pedido que: independentemente das voltas que a vida dele desse, nunca mais me contactasse. E assim foi, durante meses.

Encaixei todos os elogios tecidos na dita mensagem e pensei que era só juntar os cacos e voltar a viver. Aceito que temos o direito a não querer e como tal sou da opinião em que não se pede a ninguém para ficar.

Coincidência, ou não, estava em mudanças, o que em vez de uma hora, seriam apenas dez minutos que nos separavam. E no meio da tempestade que entretanto encontrei, tinha também todos os motivos para achar que era uma página a virar,  uma nova fase a começar. Empenhei-me ao máximo no trabalho e na casa nova. A minha casa de bonecas que ia ser testemunha de tudo: do óptimo, do bom, do mau e do péssimo.

E pior do que recomeçar relações, é enterrar as passadas. Aquelas que não compreendemos o verdadeiro motivo. Em que nem vemos motivos, mas acabaram.

Ergui a cabeça e quando começava a estar bem comigo, ele reaparece das cinzas.

O baque da surpresa. E a pior abordagem de sempre. A confiança em que tudo tinha ficado naquele ponto onde me deixou, como se eu tivesse ficado petrificada ali, à espera. Não questionou o meu sofrimento ou os meus sentimentos. Simplesmente achou que podíamos retomar a normalidade do que se tornou anormal. Senti-me a viver um filme, em que nos batem à porta, metemos na pausa e retomamos quando nos apetece.
O nervosismo revelou-me que afinal não estava tudo curado, mas a desilusão segredou-me que tudo se vai resolver. 

E a questão é: não resultou à primeira, nem à segunda, seria no reencontro da terceira? Não me parece.

O coração inquietante gritava, vai! A cabeça fria implorava, não.

Gosto mesmo muito de ti, mas aprendi a gostar mais ainda de mim. 

E na próxima abordagem, se a houver, trás flores ou convida-me para jantar num dos meus sítios preferidos. Diz-me o quanto sou importante. Que não queres uma noite, queres todas. Que o que nos une é forte, mais forte do que o que nos separa. Que partilhar a vida comigo seria um prazer, sem jogos ou omissões. Uma relação transparente e verdadeira. E que seriamos felizes.

Pode ser que a Lua esteja a nosso favor nesse dia...

sábado, 17 de setembro de 2016

A Eutanásia das relações

Não escolhemos Amar. Amamos.

Eutanasiamos relações de forma gratuita, quando as devíamos preservar. A vida ensina-nos a encaixar o que os outros pensam de nós. A aceitar. E cada vez menos a argumentar. Precisamos de estar muito bem estruturalmente para ignorar as várias e sucessivas tentativas de destruição emocional.
Há uns anos atrás, na flor da idade, tudo me revoltava, era eu contra o mundo. Depois percebi que, ou me juntava ao mundo, ou o desgaste era tal que não vivia, sobrevivia nesta selva que é  a sociedade, e daí em diante, simplesmente optei por fazer, de quando em vez, uma triagem emocional. Dos Amores que fazem parte da minha vida: dos que não escolhemos, como a família aos amigos. Só quero bem perto, os que dão saúde. Aos outros, dou-lhes uma injecção de distância. Fiquei com a nata dos que me querem bem, e eu tão bem lhes quero. E com estes queria estar bem mais do que me é possível, bem mais do que lhes é possível. 
O fracasso das relações fortifica-nos. Como se sobrevivêssemos à mais dura das doenças. Como se a eutanásia, fosse a resolução. Não é morrer, é matar. É acreditar que há vida lá fora. É acreditar que algo de muito bom está para vir. É a esperança no seu mais alto nível. É procura. E é desistir.
E neste desejo insano pelas respostas, damo-nos conta de que temos qualidades que desconhecíamos, até nos obrigarem a descobrir.

Sabes qual é a minha maior qualidade? Saber quando devo desistir.

E a essa desistência, chamo-lhe agora, eutanásia - matei-te em mim.